Elisângela Godoy chora ao lembrar que perdeu o seu filho Jeferson Daluz Pinheiro, 21 anos, vítima de pneumonia. Ela acusa o Hospital de Portão de omissão e negligência no atendimento ao jovem e diz que ele não recebeu os cuidados necessários para salvar sua vida.
Segundo a mãe, Jeferson começou com um resfriado na quarta-feira (17). Eles tentaram controlar a doença com chás e remédios para gripe. Sem melhorar, no sábado (20), Jeferson estava já com febre e dor no pulmão. No domingo pela manhã eles foram ao Hospital de Portão.
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Ela diz que o primeiro médico que examinou Jeferson não escutou o seu pulmão, mesmo ele se queixando de dor. “Ele só receitou Plasil na veia pra vômito, remédio pra dor e xarope. Eles não pediram nenhum exame adicional. Eu trouxe ele pra casa e ele piorou cada vez mais. Respiração com dificuldade, cansaço, suando frio, com vômitos”, relata.
Na madrugada de segunda-feira (22), Elisângela voltou com o filho ao hospital, pois ele não aguentava mais de dor. “Ele estava pálido, branco. Eu gritei com eles lá dentro ‘meu filho tá morrendo’. Eles mediram a pressão dele e a saturação estava muito baixa, 77. Levaram ele pra uma sala e colocaram oxigênio no nariz dele”, diz.
Foi só nesse momento que o segundo médico pediu um raio-x e exames para dengue e Covid-19. O raio-x mostrou que Jeferson tinha algo no pulmão, mas o médico não explicou o que era. “Ele disse que precisava internar o meu filho porque ele precisava fazer um tratamento com antibióticos. Eu vim em casa pegar umas roupas dele e quando eu voltei ele estava deitado na cama, gemendo de dor”, conta Elisângela.
Com o agravamento do caso de Jeferson, a família foi informada de que ele precisaria ser levado para um local com UTI. Ela afirma que tentou conseguir uma transferência para outro hospital com UTI, pois em Portão não tinha. Ela entrou com uma liminar na justiça e tentou arrecadar dinheiro para pagar um hospital particular. “No hospital me disseram que na Unimed seria R$ 55 mil só pra colocar ele lá. Eu não tinha esse dinheiro”, diz.
Quando a liminar saiu, o hospital disse que tinha conseguido um leito de UTI em Campo Bom e que ia transferir Jeferson para lá. Elisângela conta que falou com seu filho pela última vez antes dele ser entubado: “Pedi pra ele não desistir. Pra ele continuar confiando em Deus. Ele me pediu perdão e disse que me amava e pediu para eu cuidar da filha dele, como eu sempre cuidei dele.”
Quando a ambulância chegou para o deslocamento de Jeferson, Elisângela estava a postos. Ela sabia que precisava sair junto com a ambulância, mas que precisaria estar em Campo Bom antes de Jeferson para fazer a documentação necessária para sua internação. “Eles colocaram ele numa ambulância sem monitoramento cardíaco. Eu fui na frente e achei estranho que a ambulância não vinha. Depois me ligaram dizendo que ele tinha tido uma parada cardíaca dentro da ambulância e que tinham levado ele de volta pro hospital”, conta Elisângela.
Depois de chegar no hospital, ela recebeu a notícia de que o seu filho não resistiu. “O médico disse que a inflamação tomou conta muito rápido por conta da pneumonia. Eles disseram que fizeram o que puderam, mas que em Portão não tem UTI. Ele precisava ser entubado e logo colocado numa UTI”, diz.
Elisângela diz que não aceitou levar o corpo do filho para o IML. Ela também diz que está entrando com uma ação contra o hospital por negligência médica. “Eu sei que o dinheiro não vai trazer a vida do meu filho de volta, eu não estou atrás de dinheiro, mas estou fazendo para que nenhuma outra mãe passe pelo que eu passei. A justiça vai ser feita pelo meu eterno Jeferson”, afirma.
“Eles estão arrumando praças, estão arrumando isso e aquilo, embelezando aquele hospital todo, mas ali dentro a realidade é bem outra. A saúde é tão precária que hoje meu filho está num cemitério, morto”, desabafa.
O presidente do Hospital de Portão, Guilherme Vieira, se defendeu das acusações e disse que o hospital está buscando melhorar a estrutura e os serviços prestados à população. Ele lamentou a morte do jovem e disse respeitar a dor da mãe.
“O nosso sentimento também é de luto. A gente não quer perder ninguém dentro do hospital”, disse Vieira.
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